As pedras rearranjadas pelo caminho. Pronto para que joguemos nele “a casca dourada e inútil das horas”. E nos deixemos atravessar pela precisão milimétrica da palavra _ Liberta. O ritmo, a métrica, a rima, dando o compasso da festa. Mas isso ainda diz pouco, onde há morte, há vida, ampliada diante do fim. Severina. E que se inaugurem linhagens e fundemos reinos, como Adélia. Para que “justo em face do maior encanto”, possamos ir embora para Paraty, qual Pasárgada fosse. “Organizar a memória em alfabetos”. Ser amigos do rei. Poetas. E nas águas da poesia, nos deixar levar pela linguagem expressa. Estética. Fluída. Suja. Confessa.
O gênero mais desapegado da narrativa, ainda que narrativa possa ser, a poesia, esse ano é estrela da FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty -, que está acontecendo de 30 de julho a 03 de agosto. Gênero que inaugura para muitos o contato com a literatura e, no qual, muitos outros se aventuram, mesmo em tenra idade, para declarar amor em versos, a poesia, especialmente afeita de afetos, de doçuras, sabe ser contundente, e até manifesto. O homenageado da vez, o poeta curitibano Paulo Leminiski, cujo os versos merecem visitas repetidas, nos diz que “isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além”. Que seja!
O nosso acervo para te inspirar
A poesia explode os contornos da palavra. Diz muito mais do que está escrito, transborda. Transforma. Nos leva… De nosso acervo poético para você, uma seleção especial de 20 citações em versos. De autores convidados da Flip, do homenageado do ano, Paulo Leminski, claro, e também de outros grandes artistas das letras, poetas e prosadores, cuja escrita é pura poesia. Confira e deixe-se levar:
“Era uma vez um antes, que se perdeu.”
María Negroni
O coração do dano, Advertência
“Vibrando impaciência nos papéis”
Claudia Roquette
A extração dos dias, p 15
“também a delicadeza devora, a seu modo”
Mar Becker
Noite devorada, p 9
“Meu amor por você se expressa em flores.”
Astrid Roemer
Sobre a loucura de uma mulher, p 6
“Os adjetivos não dão conta dela.”
Cristina Rivera Garza
O invencível verão de Liliana, 3
“Quando te elogiei, não quis te ofender.”
Gregorio Duvivier
Caviar é uma ova, p 6
“quem está por fora não segura um olhar que demora.”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 35
“a ikebana kamikaze | pratica harakiri | pra virar hai-kai”
Alice Ruiz S
Desorientais, p 12
“Dormiam ouvindo o crepitar do engano daquilo que seria eles mesmos.”
Verenilde Pereira
Um rio sem fim, p 6
“será que aqui temos como ver alguma coisa além deste instante?”
Marília Garcia
Parque das ruínas, p 47
“Escrita: arte de destelhar a casa sem que os transeuntes percebam.”
Carlos Drummond de Andrade
Para escrever bem, de Maria Elena e Maria Otilia, p 7
“Toda escrita é, inevitavelmente, um registro de um dado momento, ainda que não atue como um espelho.”
Jana Viscardi
Escrever sem medo, p 9
“longe de ti eu me sinto perdido | — sabes? — | desertamente perdido de mim!”
Mario Quintana
A cor do invisível, p 26
“[…] respirei fundo e fui soltando todo o ar, devagar, e fiquei vazia.”
Dolores Reyes
Cometerra, p 4
“[…] a ESSÊNCIA do amor é, justamente, a alteridade da outra pessoa.”
Liv Strömquist
Não sinto nada, p 19
“Pobres são aquelas pessoas que precisam de muito pra viver.”
Pepe Mujica
De Marte à favela (Aline Midlej e Eduardo Lyra), p 3
“Acho que depois que a gente cresce, fica pequeno.”
Sérgio Vaz
Flores da Batalha, p 17
“Nem todas as respostas cabem num adulto.”
Arnaldo Antunes
As coisas, p 13
“agora que nosso amor se chama morte, agora que nosso mundo é ainda menor, apenas nós, nosso pó, um nó entre nós e tudo.”
Tarso de Melo
Poemas 1999-2014, Kindle 48
“Acabou-se a necessidade, o arrepio e o êxtase.”
Rosa Montero
A ridícula ideia de nunca mais te ver, p 9
Poesia é convite. É expansão. Seja nos versos livres de novos autores ou na métrica precisa dos clássicos, ela nos atravessa com sua potência: a voz que denuncia, as palavras que cuidam e os momentos que eterniza. Especialmente relevante no Brasil de hoje – tão cheio de desafios e também de explosões criativas – a poesia carrega seu papel transformador, íntimo e coletivo.
Além de Leminski, a Flip 2025 conta com uma constelação de poetas nacionais e internacionais, abrindo espaço para diferentes vozes – de narrativas consagradas a novas expressões que rompem moldes estabelecidos. Vale lembrar que o diálogo entre o público e os convidados segue sendo um dos pontos altos do evento, ampliando a potência do gênero poético.
Que a Flip 2025 seja este espaço para se perder – e se encontrar – nas águas da poesia. Celebre conosco essa festa das palavras, das emoções destiladas verso por verso. E aproveite para mergulhar ainda mais fundo no universo poético com as citações, poemas e textos presentes no nosso acervo. Afinal, como já diria Leminski, “o importante não é decifrar o mundo, mas ser atravessado por ele”.
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