Sem querer correr o risco de nos perder em tentativas de definições que, com certeza, escapariam do alvo, por sua mobilidade e dimensão, te convidamos a conhecer a obra de Paulo Leminski, lendo Leminski. Para isso, fizemos uma seleção da coletânea ‘Toda Poesia’, que reúne os escritos já publicados do poeta, que é o autor homenageado da Flip 2025. “Este livro é antes de tudo uma vida inteira de poesia”, declara no prefácio da obra, a poeta Alice Ruiz S, sua companheira de vida, mãe de seus três filhos, e parceira de várias criações artísticas. Que tal dar um mergulho em 18 frases poéticas retiradas desta vida inteira? E se você já leu Leminiski, fazemos um convite para que você revisite sua obra com a gente, além destas aí, tem muito mais em nosso acervo.
Não vamos falar muito da obra, mas podemos falar um pouquinho do artista que deu vida à ela. Paulo Leminski foi um dos mais instigantes e versáteis poetas brasileiros do século XX, deixando um legado que atravessa a literatura, a música e as artes visuais. Nascido em Curitiba, no Paraná, em 24 de agosto de 1944, Leminski desde cedo demonstrou uma mente inquieta e um talento raro para o jogo com as palavras. Filho de um polonês de quem herdou o apreço pela disciplina e uma mãe brasileira (com descendência portuguesa, africana e indígena) que nutria sua curiosidade cultural, Leminski começou sua trajetória literária ainda na juventude, marcado pela influência dos haicais japoneses, da poesia concreta e de grandes autores como Haroldo de Campos e Oswald de Andrade.
Mas o que transforma Leminski em um personagem singular da nossa literatura é sua capacidade de transitar entre o erudito e o popular, criando uma obra rica em brevidade e intensidade. Além de poeta, ele foi romancista, ensaísta, tradutor e compositor, colaborando com nomes de destaque da música brasileira, como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Moraes Moreira e, ainda, professor e publicitário. Múltiplo. Alice Ruiz, sua parceira de vida e de criação, destacou que Leminski era mais do que um poeta; era um pensador que transformava até os momentos mais triviais em matéria-prima para suas reflexões poéticas. Considerado um dos principais representantes da Geração Mimeógrafo, entre suas publicações mais marcantes, destacam-se “Caprichos e Relaxos” e “Distraídos Venceremos”, reconhecidas por dialogar com as angústias e os prazeres do cotidiano.
Ele partiu cedo, aos 44 anos, mas deixou um legado impressionante, eternizado especialmente na coletânea “Toda Poesia”, que reúne sua essência multifacetada e que você pode começar a conhecer aqui:
“Só mesmo um velho para descobrir, detrás de uma pedra, toda a primavera.”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 16
“Achar | a porta que esqueceram de fechar. | O beco com saída. | A porta sem chave. | A vida.”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 23
“tenho andado tanto | diabo querendo ser santo”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 70
“ser meio | e meio ser | sem deixar | de ser inteiro | e nem por isso | desistir | de ser completo | mistério.”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 36
“[…] e só quando estamos em nós estamos em paz mesmo que estejamos sós”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 32
“faça qualquer coisa mas pelo amor de deus ou de nós dois seja”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 47
“Pense depressa. O que veio? Quem vem? Bonito ou feio? Ninguém.”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 18
“um poema que não se entende | é digno de nota | a dignidade suprema | de um navio | perdendo a rota”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 71
“lembrem de mim […] como quem hesita, mestiça, entre a pressa e a preguiça”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 78
“nascemos em poemas diversos | destino quis que a gente se achasse | na mesma estrofe e na mesma classe | no mesmo verso e na mesma frase”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 104
“faço parte dessa gente que pensa que a rua é a parte principal da cidade.”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 24
“a árvore é um poema | não está ali para que valha a pena”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 45
“teses | sínteses | antíteses | vê bem onde pises | pode ser meu coração”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 133
“nada não | que nada nenhum | declara tamanha danação”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 79
“Vai vir o dia | quando tudo o que eu diga | seja poesia”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 77
“en la lucha de clases todas as las armas son buenas piedras noches poemas”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 93
“nuvens brancas passam em brancas nuvens”
Paulo Leminski
Toda poesia, 101
“sobre a mesa vazia | abro a toalha limpa | a mente tranquila | palavra mais linda”
Paulo Leminski
Toda poesia, p 33
O interesse de Paulo Leminski pelos haicais surgiu de sua profunda admiração pela cultura japonesa, que ele descobriu ainda na juventude. Leminski foi faixa-preta de judô e encontrou, na filosofia oriental, valores de concisão, precisão e harmonia que marcaram não apenas sua visão de mundo, mas também sua expressão literária. Fascinado pela forma minimalista e impactante dos haicais, que dizem muito em tão poucas palavras (três versos, com métrica 5-7-5), o poeta encontrou nessa estrutura o terreno ideal para brincar com significados e sonoridades. A influência dos haicais em sua obra não se restringe apenas à forma, mas também à capacidade de capturar e eternizar momentos efêmeros da vida cotidiana, como se o instante fosse desvendado em sua essência. É como se, na obra de Leminski, cada verso fosse um pequeno haikai brasileiro, uma cápsula que condensa toda a intensidade que ele via – e vivia – no mundo.
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